Entendendo vinhos: taninos, acidez, doçura e corpo

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TRILHA DO SOMMELIER

Módulo 1

CAPÍTULO 1: Expert em 10 minutos
Entendendo vinhos: taninos, acidez, doçura e corpo 71.5%

No tópico de hoje abordaremos as 4 propriedades dos vinhos que são percebidas na etapa gustativa da degustação e que determinam seu equilíbrio: taninos, acidez, doçura e corpo.

Entendendo o vinho para descrevê-lo

Há várias maneiras de descrever um vinho – umas mais poéticas, outras mais objetivas. Todas, invariavelmente se organizam a partir de como percebemos suas qualidades com nossos sentidos e se dividem em 3 fases: visual, aromática e gustativa. O tópico de hoje se concentrará na fase gustativa.

Você pode conferir toda a técnica profissional para avaliação de vinhos neste podcast: SV#03 – Aprecie vinhos como um profissional.

confira o passo a passo de uma degustação técnica neste vídeo >>

Degustação – fase gustativa

É a etapa que descreve as sensações provocadas pelo vinho em boca, tanto sensações de gosto, nas papilas gustativas, como as tácteis: sentidas nas gengivas, língua etc. Essas sensações são agrupadas em 4 pilares: acidez, doçura, taninos e corpo.

Para fins didáticos, gosto de colocar essas 4 propriedades essenciais dos vinhos num gráfico tipo teia de aranha. A noção de equilíbrio ficaria evidente:  quando cada um dos pilares tem intensidade equivalente, o vinho está equilibrado e o gráfico tem forma arredondada, sem pontas.

É importante comentar, só para conhecimento, que grande parte dos aromas (cerca de 80%) é, de fato, percebida em boca.

Taninos nos vinhos

Taninos são polímeros (longas cadeias de átomos de carbono; mais precisamente neste caso, são polifenóis) que chegam aos vinhos vindos das cascas e sementes (durante a maceração) e contato com carvalho (quando estagia em barricas ou similares).

Taninos também estão presentes, em forma mais agressiva, nas partes verdes da videira (folhas, cachos etc) e podem passar ao vinho caso essas partes integrem o mosto durante a maceração (mas isso às vezes é desejável! É prática tradicionalmente utilizada nos Pinot Noir de Borgonha).

Sua estrutura química faz com que se combinem com a saliva (proteínas em geral) causando sensação de secura na boca, à qual nos referimos como adstringência.

Taninos também são associados à longevidade nos vinhos tintos (nos brancos, a longevidade está mais associada a acidez e acúcares).

Quantidade e Qualidade dos taninos nos vinhos

Quantidade

A quantidade de taninos no vinho depende das técnicas de extração (macerações mais longas, a temperaturas mais altas, com muitas remontagens e em mosto com maior quantidade de álcool – ou pós-fermentativas – são mais extrativas) mas também dependerão da variedade de uva sendo vinificada (ex.: Cabernet Sauvignon, com grãos menores e casca mais grosa é mais concentrada em taninos que Pinot Noir, de casca mais fina).

Qualidade

A qualidade dos taninos extraídos é de suma importância na determinação da adstringência no vinho: taninos “verdes”, de frutas não completamente maduras ou das partes verdes da planta serão mais adstringentes e agressivos ao paladar. A microoxigenação – tanto forçada quanto causada pelo enevelhecimento em barricas ou em garrafas – tende a suvaizar os taninos.

Acreditava-se que causasse a polimericação das moléculas em cadeias mais longas que seriam menos agressivas, mas essa hipótese é contestada por alguns cinetistas. O mecanismo pelo qual a suavização ocorre ainda não foi totalmente esclarecido.

Taninos são presentes em vinhos tintos, rosés, laranja e brancos barricados. Juntamente com o álcool são responsáveis pela sensação de corpo.

A amplitude térmica no vinhedo, com noites frias e dias calorosos, é essencial na manutençaõ da acidez nas uvas. Vinhos do Vale do São Francisco, no Nordeste brasileiro, não contam com esse refresco noturno. Para contornar o problema, enólogos e agrônomos normalmente optam pela colheita antes da completa maturação na tentativa de preservar acidez. Essa “acidez verde” é nitidamene percebida.

Acidez

Advinda da variedade, terroir e técnicas agrícolas e de vinificação (vide exemplo no box). É responsável pela sensação de frescor nos vinhos, sendo especialmente desejada nos brancos jovens e espumantes – casos em que a fermentação malolática (FM) é normalmente evitada. É ainda importante na longevidade dos vinhos, que são considerados mortos e chatos/sem-graça em casos de acidez insuficiente.

Em boca é percebida por provocar aumento na salivação e minimizar a percepção de doçura.

Doçura

O açúcar nos vinhos é proveniente da uva e normalmente transformado em álcool em sua quase totalidade no caso dos vinhos secos (algum nível de chaptalização – ou adição de açúcar – pode ser permitido em algumas denominações de origem com a finalidade de elevar o teor alcóolico mas não para adoçar o vinho –  exceto nos espumantes, como veremos no próximo módulo).

No caso dos vinhos doces, a doçura advém de açúcar residual, não consumido durante a fermentação.

Álcool

Principal produto da fermentação do açúcar das uvas. O teor alcóolico no vinho depende da quantidade de açúcar presente na uva e quanto desse açúcar será trasnformado em álcool durante a fermentação. O teor de açúcar na uva, por sua vez, depende da variedade (tintas tendem a produzir vinhos mais alcóolicos que as brancas; Cabernet Sauvignon tende a ser mais alcóolica de Pinot Noir) e do terroir, incluindo aqui o fator humano (climas quentes geram uvas mais doces; quanto à influência humanda temos: técnicas de raleio, escolha do momento da colheita, técnicas de passificação das uvas, técnicas de vinificação: uso de leveduras resistentes ao álcool).

O nível de álcool e seu grau de integração no vinho são essenciais para o equilíbrio. A percepção do teor alcóolico é fortemente afetado pela temperatura de serviço, tendendo a destacar-se em temperaturas mais altas.

Outros alcoois, além do etanol, estão presentes nos vinhos. Os glicóis tendem a provocar sensação de doçura e a untuosidade responsável pela formação das famosas lágrimas nas paredes das taças. Juntamente com os taninos são responsáveis pela sensação de corpo percebida na boca.

 

Expectativa de corpo nos vinhos tintos (viniificados conforme o estilo tradicional de cada cepa e para um mesmo clima)
Dica

Um bom exemplo para ajudar a entender como a mão do enólogo tem um peso importante no corpo do vinho é comparar um Tannat tradicional e o Tannat de Maceración Carbónica da Pizzorno.

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Corpo

O corpo de um vinho é como chamamos a sensação provocada por ele na boca em termos de “peso” e “volume”. Essa sensação é diretamente proporcional ao teor alcóolico e à presença dos gliceróis e outras substâncias viscosas. Uma forma fácil de entender corpo é pensar na sensação provocada em boca por leites com distintos teores de gordura – desnatado, 100% e creme de leite.

Vale observar: ainda que glicerol puro seja super viscoso, segundo afirmação do Dr. Andrew Waterhouse (Professor de enologia na UC Davis) nessa entrevista (link) a viscosidade nos vinhos advém de outras substâncias (não especificadas) e não do glicerol.

A presença de taninos contribui para a sensação de volume em boca pela aspereza provocada e dá ao vinho sua chamada “estrutura” (pense nos ferros que conformam a estrutura de uma barraca, permitindo que seja coberta com lona e então tenha seu volume preenchido).

Da mesma forma, muito álcool e viscosidade num vinho sem estrutura tânica resultaria numa textura oleosa e amorfa.

Por vezes negligenciada, a temperatura de serviço afeta enormemente a apreciação de vinhos, podendo chegar a desequilibrá-los:

  • Temperaturas acima da ideal aumentam a percepção do àlcool e doçura.
  • Temperaturas abaixo da ideal aumentam a percepção de taninos, deixando-os mais duros

Confira dicas sobre temperaturas e até taças neste post com dicas para montar sua confraria e treinar técnicas de degustação >>

Variações de corpo nos vinhos – teor alcoólico

O corpo nos vinhos varia de leve a encorpado ou muito corpo. Essa característica é uma das principais a ser considerada em harmonizações, quando o objetivo é equilibrar pratos e bebidas sem que um “pese” mais que o outro.
É possível antecipar o corpo dos vinhos a partir de seu teor alcóolico, o “número mágico” divisor de águas está entre 12,5 e 13,5% de álcool. Esses teriam grande chance de serem vinhos de corpo médio. Abaixo desse valor teríamos vinhos leves e acima, vinhos encorpados.

Variações de corpo nos vinhos – variedade da uva

A variedade da uva pode também indicar o corpo do vinho, conforme ilustrado na figura acima. Note que isso só vale para as vinificações “tradicionais”, em que o enólogo busca o estilo pelo qual a variedade é conhecida. Um exemplo de “corpo surpresa” é o Tannat de Maceración Carbónica produzido pela bodega uruguaia Pizzorno. Conheça mais sobre esse vinho nessa confraria sobre Tannats. Além das técnicas de vinificação, o clima afeta o corpo: vinhos de lugares quentes tendem a ser mais encorpados e alcóolicos. Um bom exemplo para entender a influência do terroir pode ser comparar um Pinot Noir de Mendoza e um da Patagônia.

Olá, bem-vindo à Trilha do Sommelier do Simples Vinho. Eu sou a Fabiana Knolseisen, sommeliére, e vou te ensinar tudo o que você precisa para aproveitar ao máximo essa bebida incrível. Um novo tópico a cada semana e um podcast a cada capítulo concluído. Tintim!

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