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Conheça os melhores vinhos uruguaios apresentados na Tannat Tasting Tour 2018 que rolou dia 14/08 em São Paulo. Ok: só alguns dos melhores…
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Era para ser um post curto, mas ficou gigante e acabou virando um podcast. Confira aqui, com ainda mais vinhos!
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Uruguai: muito mais que tannat
Na própria masterclass fomos apresentados a merlots e cabernet francs – segundo alguns especialistas as verdadeiras vocações uruguaias. Faz sentido: o Uruguai é um estuário com grande proporção de solo argiloso – mesmas características da referência famosa Bordeaux, em cuja margem direita a merlot e a cabernet franc reinam.
O Uruguai, daquele tamanhozinho, se destaca nessa categoria de “únicos no mundo” e, de novo, não só pelo tannat! Vejamos alguns dos meus destaques nesta mostra:
Os destaques da Tannat Tasting Tour 2018
Tentei focar em vinhos e produtores que eu nunca tinha comentado no blog. Tive boas surpresas (inclusive se sobrepondo a preconceitos meus!). Claro que não daria para “destacar” tudo, mas a gente tenta!
Varietais sem tannat
O destaque dessa categoria para mim foi o Petit Clos 2016 (Bodega Garzón): um cabernet franc mineral e elegante, mas também denso e fresco. Já tínhamos falado no blog/podcast várias vezes da Garzón, uma bodega moderna e caprichosa em Jose Ignácio, com vários vinhos que me agradam muito (confira aqui a confraria). Patrício Tapias deu 94 pontos a esse vinho na edição 2018 do Guia Descorchados e o premiou como Vinho Revelação e Melhor Cabernet Franc.
Ainda de Cabernet Franc (eu gosto mesmo dessa uva!), destaque também para o Gran Ombú, da Bodega Bracco Bosca, da arrojada enóloga Fabiana Bracco (92 pontos no Descorchados 2018). Não conheço bem essa bodega e seus vinhos mas parece que eles têm uma pegada supernatural. Estou de olho…
Assemblages
Tendo como referência a linha bordalesa, foram apresentados alguns cortes ou assemblages. Como era de se esperar, aqui no nosso vizinho os cortes são baseados em tannat. Vale lembrar que apesar de a uva tannat ser originária de Madirán no oeste francês, região próxima a Bordeaux, não é uma variedade permitida na AOC (mas malbec e carmenere são!).
Novamente, procurei trazer aqui vinhos que ainda não tinha comentado, mas como paixão antiga sempre mexe com a gente, alguns repetecos (ou confirmações?) foram irresistíveis.
Um dos destaques para mim foi o cofermentado Tannat / Viognier da Alto de la Ballena (já tinha falado dele também neste programa com sugestões de vinhos para provar ou trazer do Uruguai): a viognier, perfumada e de textura oleosa, faz um daqueles casamentos perfeitos com a rústica e pouco aromática tannat. Sem contar que é um corte curioso e provavelmente único no mundo.
Aliás, essa coisa de “único no mundo” é especialidade uruguaia e essa degustação me lembrou porque eu amo o também “único no mundo” Tannat Merlot Zinfandel da Bodega Artesana! (Claro que eu já tinha falado desse vinho também, neste programa exclusivo sobre a Artesana e na sugestão de vinhos para trazer na mala). Potência do tannat, suavidade, doçura e aromas da zinfandel e da merlot, tudo isso arredondado por 2 anos em carvalho francês de primeiro uso. Top!
Me chamou a atenção também o 4 Gatos 2013, da Bodega Ariano (da qual eu nunca tinha falado aqui!). É um daqueles vinhos que só se elaboram em anos especiais: esse 2013 é sua segunda edição. Um corte com 60% de tannat e 40% de cabernet sauvignon que tinha tudo pra ser uma paulada mas… é elegante, complexo e tem as marcas da cabernet sauvignon: a acidez e o toque verde. Eu adoro!
Uma curiosidade sobre esse vinho é que sua primeira edição, lançada em 2009 com uvas da safra 2006, contou com a participação do famoso artista uruguaio Carlos Paes Villaró (aquele que era amigo do Vinícius de Moraes e construiu a Casa Pueblo – muito engraçada, sem teto, sem nada). O pintor não apenas desenhou as etiquetas como definiu o corte: 60% tannat da região de Paysandú (no noroeste do país) e 40% Cabernet Sauvignon da região de El Colorado (no sul, perto de Montevidéu). O vinho 4 Gatos também é uma homenagem aos 4 gatos do pintor: Norte, Sul, Este e Oeste.
Por fim, Rio Colorado 2011, da bodega de Lucca. O fundador, Reinaldo de Lucca, é muito respeitado no Uruguai: inovador, controverso, com ideias próprias. Produz os vinhos que gosta e problema de quem não gosta! Eu confesso que nem sempre me agrada, mas esse corte está show: de 2011 (aliás, ótima safra!), mostra aromas animais e complexos como sinal de evolução mas mantém a pegada firme do tannat maduro (40%) e acidez na medida (40% de cabernet sauvignon). Os 20% de merlot arredondam o blend.
Brancos e Rosés
Separei esse aqui da categoria “únicos no mundo” acima por ser branco: um 100% Sauvignon Gris da Bodega Filgueira (que eu também nunca tinha comentado no blog). Essa uva é uma mutação da sauvignon blanc e é portanto, originária de Bordeaux na França. O toque inusitado ficou por conta da história que o André Peixoto, representante aqui no Brasil, me contou: 1) essa é mais uma daquelas histórias de uvas compradas por engano (eles compraram sauvignon blanc e receberam sauvignon gris. A uva é também bem comum no Chile pela mesma razão) e 2) é uma variedade rara e 10% de toda a área plantada do mundo está no pequenino Uruguai!
Meu destaque rosé, na ausência do tannat rosé da Artesana (do qual já falei muito aqui mas apenas os privilegiados do Rio de Janeiro puderam provar nesta tour), foi o Tannat Rosé da Finca Narbona: essa bodega boutique da região de Carmelo no Uruguai (tem hotel e restaurante!), da qual eu nunca tinha falado muito no blog porque eu não era muito fã dos vinhos. Não era. Alguma coisa mudou por lá e a madeira pesada sumiu! Esse rosé tem o mesmo estilo do da Artesana: é escuro, como os rosé da francesa Tavel. Fermentado em barrica, tem a madeira super bem integrada e não é um vinho para os fracos. Numa daquelas degustações às cegas, com a taça negra que não nos permite saber nem a cor do vinho, desafio os experts a dizerem que é um vinho rosado! Talvez pelos aromas e acidez diferenciados…
E, para quem prefere os rosés mais leves, ao estilo de Provance, o sempre ótimo Pinot Noir Rosé Garzon é imbatível! O melhor do país, segundo o Guia Descorchados 2018. (aliás, vale ficar de olho também em todos os brancos da Garzón!).
Tannat – a especialidade uruguaia
Como não poderia deixar de ser, os produtores trouxeram muitos varietais de tannat – a especialidade local, variedade emblemática do país e que dá nome à iniciativa: Tannat Tasting Tour.
Uva, dentre as viníferas, com maior concentração de resveratrol – aquele que faz bem ao coração – todo mundo queria gostar de tannat, mas não é tarefa simples: é uma uva rústica, cheia de taninos, gastronômica… Mas o produtor no Uruguai aprendeu a domá-la como em nenhum outro lugar.
Meu destaque ficou com o Narbona Luz de Luna Tannat 2014, da Finca Narbona, que a enóloga (Fabiana Bracco – a mesma da Bracco Bosca) descreve como uma combinação de Antônio Banderas e George Clooney! Para ser politicamente correta eu tentei fazer um paralelo com atrizes mas não pude me decidir. Sugestões ??
Esse vinho é obtido a partir de 5 vinhedos distintos de tannat tratados de forma individualizada (as podas, a colheita, as diferentes técnicas empregadas na vinificação e mais os 19 meses em carvalho francês). Potente e elegante.
Outro produtor que eu ainda não havia mencionado aqui (são tantos, ótimos: é impossível ser justa…), mas acho que vale o destaque do Sueños de Elisa, da Viña Progreso – projeto de Gabriel Pisano, nova geração da família Pisano, autodenominado “experimental”. 100% tannat da lendária safra 2011, a “experimentação” aqui fica por conta da fermentação em barrica aberta. Fermentar em barrica é comum para vinhos brancos. No caso dos tintos, que fermentam com as cascas, é uma trabalheira do capeta – daí ser tão incomum!
Mais curiosidades
Para encerrar a noite, nada como um vinho curioso! Sempre curto descobrir alguma coisa “estranha” e a surpresa neste caso foi dupla: vem da Bodega Nabune – que eu nunca tinha ouvido falar, mas o enólogo e proprietário Gerardo Nabune me disse que não é exatamente nova, mas só recentemente iniciou no mercado de vinhos finos.
O Gerardo me apresentou o Solera. Inspirado no jerez – aquele vinho fortificado espanhol submetido a dois tipos de envelhecimento diferentes: o biológico e o oxidativo (a gente já falou de jerez no episódio sobre vinhos doces e no episódio sobre Casablanca, por causa do REvelado) e que depois passa pela solera, processo também chamado in perpetum que vai mesclando vinhos novos com vinhos mais velho (confira no ABC).
O Solera uruguaio não passa por uma solera, mas sim passa por crianza biológica (com o velo de flor) e oxidativa: o vinho, um sauvignon blanc, é colocado em garrafões de vidro e deixados no sol!! O resultado é um vinho de cor marron escura (olha a foto!), com aromas amendoados e a doçura bem balanceada pela acidez.
Menção honrosa no quesito originalidade vai também pro Tannat de Maceración Carbônica da Bodega Pizzorno, que nem é tão novo – a gente já falou dele no episódio sobre o Beaujolais Nouveau, em que falou de maceração carbônica, mas que só agora está disponível no Brasil. A importadora é a Grand Cru. Esse vinho cativou o crítico Patrício Tapias, que o classificou como Tannat Revelação no Guia Descorchados 2015 e mesmo agora, na edição 2018, integrou a Masterclass de lançamento do Guia e arrebatou 92 pontos.
É uma ótima surpresa pra quem espera um tannat típico e uma aula sobre como a mão do homem atua no processo de vinificação. Faixa de R$70, vale conferir!