Os Vales (e os Vinhos) do Chile

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O 4o maior exportador de vinhos do mundo* é nosso vizinho: são apenas 3 horas em vôo direto relativamente barato. Já que não precisa de mais desculpas para visitar, aqui vão algumas dicas para organizar a viagem em torno do vinho.

Esta Taça resume e organiza o programa SV#36 – Chile: entre vales e vinhedos >>

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Visitar vinícolas no Chile: playground de enófilos!

Apesar da extensão do território chileno no sentido norte-sul, a produção de vinhos é maciçamente concentrada num raio de 200km a partir da capital Santiago – facilitando ainda mais a vida do turista enófilo. Das 400 vinícolas em atividade no país, cerca de 150 são abertas à recepção de turistas – a grande maioria no Vale do Maipo, muito perto de Santiago e acessíveis até por transporte público.

Conheça as regiões chilenas e programa seu roteiro

Quem gosta de vinho e tem tempo, terá a difícil missão de escolher quem visitar. Eu expliquei sobre as regiões e vales chilenos no SV#36, comentando suas características, algumas vinícolas que me interessam em cada um deles e porquê. Aqui eu deixo um “resumo super resumido”, pra ninguém ter que tomar notas enquanto ouve o programa e nem ter que ouvir o programa de novo pra pegar algum detalhe que escapou. Vamos lá!

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Confira também o vídeo teaser do programa SV#36: Chile – entre vales e vinhedos:

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As Regiões chilenas produtoras de vinho

São 6 macro regiões, mas as características dos vinhos são melhor refletidas pelas sub-regiões. 90% da produção está concentrada na Região Central, onde fica também a capital Santiago. Os infográficos que preparei para as principais regiões ajuda bem a visualizar e entender todos os vales:

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Ilustração das regiões e vales produtores no Chile. Crédito: Clear Lake Wine Tasting

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1. Região Atacama: produção muito pequena de vinhos.

 

2. Região Coquimbo: boa produtora de uvas, majoritariamente destinadas ao consumo (uva de mesa) e à produção de pisco (aguardente nacional). Responde por apenas 3% da produção de vinho do país e historicamente produz vinhos de excelente qualidade (tanto que chegaram a ser proibidos por competirem com o espanholes). Os vinhos dessa região tendem a ser frutados, com as notas verdes tão características do Chile e típicas de climas mais frios graças à altitude e à brisa fria que vem do mar. As sub-regiões são os Vales de Choalpa, Limarí (destaque para os chardonnay e pinot noir) e Vale do Elquí (destaque para syrah e sauvignon blanc). Vinícolas da região: Tabalí, Tamaya, Maycas del Limarí e a ganhadora do prêmio Descorchados 2018 para melhor blend tinto, a Viñedos de Alcohuaz (as duas últimas não têm estrutura turística).

3. Região Aconcágua: já bem próxima à capital, compreende 3 sub-regiões. Vale do Aconcágua (destaque para a cabernet sauvignon e vinícola Errázuris) e os Valle de Casablanca e Valle de San António (inclui Valle de Leyda), a caminho das famosas praias chilenas de Valparaiso e Viñas del Mar. É uma região fresca devido à brisa do mar, e o destaque fica por conta das brancas chardonnay e sauvignon blanc e das tintas pinot noir e syrah.
Há várias vinícolas “visitáveis” por aqui, como mostra o mapa da Decanter. As minhas escolhidas para essa viagem foram a RE e a biodinâmica Matetic., mas vale conferir também o mapa e sugestões da revista Decanter.

Update: depois que fiz o programa SV#36 me aprofundei mais no Vale de Casablanca e me deslumbrou! A House Casa del Vino, em especial, reúne vários produtores inclusive a linha Morandé Adventure – totalmente Supernatural (e, inclusive, dona da argentina Zorzal do Juampi Michelini!)

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Vale de Casablanca – Crédito: Revista Decanter
4. Região Central: vale mais quentinho e protegido, concentra 90% de toda a produção de vinhos do país (que não é pouca!). É o berço da cabernet sauvignon, mas também se encontra muita carmenère. As sub-regiões já soam bem conhecidas: Valle del Maipo, Valle del Rapel (que contém ainda os Valle del Cachapoal e Valle del Colchagua), Valle de Curicó e Valle del Maule, nesta ordem indo pro sul. Algumas dicas de visitas por aqui:

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     Maipo
  • Santa Rita (com restaurante e hotel) – 15km desde Santiago; possível chegar em transporte público. Há várias opções de tour, iniciando em $12.000
  • Concha & Toro (com wine bar) – destaque para o, famosíssimo entre os brazucas, Casillero del Diablo – 30km desde Santiago; possível chegar em transporte público. Aqui pertinho tem ainda as super top Chadwick (do idealizador do Julgamento de Berlim, uma versão chilena do famoso Julgamento de Paris) e Almaviva.
  • Haras de Pirque (com restaurante) – 50km desde Santiago
  • Odfjell ($14.000) – 30km desde Santiago
  • Undurraga ($12.000) – 40km desde Santiago; possível chegar em transporte público. Destaque para a Sala de Aromas
  • Tarapacá – 55 km desde Santiago (apenas tours privados com reserva prévia de seg a sex)
  • De Martino – 50km desde Santiago; destaque para os vinhos de “tinaja” e os muitos premiados Descorchados 2018 (veja aqui)

     Vale de Rapel – Colchagua

  • Viu Manent (com restaurante) – 180km desde Santiago
  • Casa Silva (com hotel e restaurante) – 140km desde Santiago
  • Koyle – destaque: vinhedos orgânicos e biodinâmicos
  • Ventisquero – (com restaurante) – 120km desde Santiago
  • Vinã Montes (com restaurante) – 180km desde Santiago
  • Casa Lapostolle (com hotel e restaurante) – 180km desde Santiago (pegadinho à Montes); considerada arquitetonicamente uma das mais belas do mundo
  • Lara Hartwig – charmosíssima vinícola boutique, com vinhos premiados e também pegadinha à Montes e à Lapostolle.

     Valle de Curicó

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5. Região Sul: Valle de Itata e Valle de BioBio são pouco produtivos no Chile, talvez porque seja tão fácil produzir no Valle Central. Algumas vinícolas até mantém vinhedos por aqui, como a De Martino, mas as sedes ficam em localidades mais centrais. O destaque por aqui é a Cacique Maravilla e seu Pipeño de uva País ou o laranja de Moscatel – cepas resistentes ao clima inóspito. Perto de Puerto Montt dá para conhecer e até se hospedar na Villa Señor, uma das bodegas mais austrais do planeta e, com um pinot noir bastante respeitável segundo a mestra Jancis Robson! Confira aqui.

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6. Região Austral: por aqui só vinhedos experimentais (alguns até são privados, mas sempre com apoio governamental). A motivação para produzir em território tão extremo parece ser muito mais o troféu de “vinho mais austral do mundo” do que a qualidade em si.

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Confere também o vídeo teaser do programa SV#36 >>
* Dados da OIV – State of the Vitiviniculture World Market April 2016. Excluding must

Opção para quem não puder ir a vinícolas

Quem curte vinho mas tem tempo curto em Santiago e não vai conseguir visitar nenhum produtor conta agora com a Vinolia: uma espécie de museu-escola-wine bar. A experiência consiste em esquentar os motores na Sala de los Sentidos – com 48 aromas do vinho para treinar seu olfato – e depois “visitar” o Vale de Casablanca ou Vale do Colchagua (depende do horário) degustando 5 vinhos apresentados pelo próprio produtor ou enólogo na Sala de Cine. A experiência é salgadinha (cerca de 170 reais).

Entenda os rótulos dos vinhos chilenos

Reserva, Reserva Especial, Reserva Privada e Gran reserva – qual é melhor?

A legislação chilena permite o uso de todos esses termos: Reserva, Reserva Especial, Reserva Privada e Gran Reserva, mas como a gente já comentou no programa 31, esses nomes não querem dizer muita coisa na comparação entre produtores diferentes. No caso dos vinhos de um mesmo produtor, no entanto,  estes termos indicam ordem crescente de qualidade. Entenda melhor os termos Reserva e Gran Reserva nesse programa >>.

Costa, Entre Crodilleras e Andes

Em 2012 foram definidas nomenclaturas complementares: Costa, Entre Cordilleras e Andes, indicativas da região em que o vale produtor está localizado, como super bem ilustrado na figura abaixo. Costa aplica-se às regiões produtoras entre o Pacífico e a Cordillera de la Costa, Andes aplica-se às regiões já no sopé da Cordilheira dos Andes e o Entre Cordilleras é alto explicativo! A regra é bem nova, e ainda não se sabe se vai “pegar”.
Vista topográfica da Região Aconcágua ilustrando as classificações Costa, Entre Cordilleras e Andes.

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Simples Vinho por Taça

  • A uva ícone do Chile é a Carmenère, que se pensava extinta devido à filoxera mas sobreviveu no Chile meio que perdida entre em vinhedos de Merlot.
  • A uva mais plantada é a Cabernet Sauvignon, mas alguns enólogos estão resgatando a País, especialmente na região Sul e também obtendo bons resultados com a Carignan no Maule. Conheça as características destas cepas no ABC do Simples Vinho.
  • Confira também os vinhos chilenos premiados pelo Guia Descorchados 2018 >>
  • Se ainda não ouviu, não deixe de conferir o SV#36, falando do Chile, seus vinhos, seus vales e muito mais história e músicas!

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