A moda dos vinhos envelhecidos em barril de Bourbon não é nova, mas a chegada do Los Muertos Bourbon Barrel Black Label Assemblage reforça a questão: esse vinho é bom?
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A origem dos vinhos envalhecidos em barril de Boubon
A utilização de barris de madeira na vitivinicultura originou-se nos tempos romanos devido à necessidade de transporte – barris eram muito mais leves e práticos que ânforas de argila. Não demorou para que os enófilos da antiguidade notassem que a madeira também beneficiava o vinho, tornando-o mais macio e interessante. A história do uso dos barris de carvalho e como eles afetam o vinho são contadas neste episódio de podcast.
Já a utilização de barris de bourbon para envelhecimento dos vinhos teve sua origem na praticidade. Conforme Bob Blue, enólogo da Fetzer Vineyards e barão não oficial dos vinhos envelhecidos em barris de bourbon, contou ao site Vinepair. Sua criação foi um produto de necessidade econômica: “Lembro-me claramente no início dos anos 80 que comprar carvalho francês para vinho era um grande negócio. (…) Como não havia muito capital, usamos barris de bourbon.”.
Blue se refere ao Zinfandel 1000 Stories lançado em 2014. O pioneiro na categoria. A moda por lá “pegou”. Atualmente todos os maiores produtores americanos possuem pelo menos uma versão de vinho envelhecido em barril de bourbon e a categoria arrecadou mais de US $ 91 milhões em 2018, ante US $ 800.000 em 2015.
Mas tem bourbon adicionado no vinho?
A princípio não, mas muitos produtores relatam que o estágio nas barricas previamente oucpadas pelo destilado aumenta o teor alcóolico do vinho.
Além disso, como o impacto da madeira do barril de bourbon é muito mais acentuado que o de uma barrica tradicional, a escolha do vinho a seguir essa linha de envalhecimento tende a recair em vinhos com já elevado teor alcóolico. Essa escolha é necessária pois vinhos muito sutis e delicados seriam esmagados pela intensidade dos aromas e sabores da barrica. De fato, a maioria desses vinhos encontra-se num patamar acima dos 14% de álcool. Esse “calor” borra a linha que distingue vinho e bourbon e reforça a sensação de se estar provando uma bebida destilada.
E afinal: vinho envelhecido em barril de bourbon parece um Bourbon?
Eu acho que um pouco sim, pelo sabor adocicado (apesar de seco) e pelos aromas de defumado, caramelo e baunilha bem marcados – mas não saberia dizer se a diferença vem (porque ela existe: o vinho fica único, muito diferente de um Cabernet Sauvignon “normal”) do bourbon que ocupou a barrica originalmente ou simplesmente da barrica, que foge bem da atual tendência de mínima intervenção: os barris de bourbon são ligeiramente mais altos e estreitos que os bordaleses padrão, aumentando a proporção vinho / madeira. Além disso, barris de bourbon são legalmente obrigados a serem feitos de carvalho americano com tostado forte. E só podem ser utilizados uma única vez, gerando um “sub produto” cheio de sabores e aromas que ainda dá muito caldo!
Segundo Courtney Schiessl escreveu na Vinepair: “na taça, é difícil distinguir qualquer diferença real entre o envelhecimento em barril de bourbon e o envelhecimento em barril de carvalho padrão. O Zinfandel envelhecido em barril de Bourbon 1000 Stories é um Zinfandel bem equilibrado e cheio de personalidade , mas um bebedor de vinho teria dificuldade em discernir as características específicas do barril de bourbon. O Apótico “Inferno” tem um sabor distinto de baunilha que pode ser encontrado na maioria dos novos barris de carvalho, junto com um alto teor de álcool de 15,9%. Embora o calor álcoolico semelhante ao bourbon possa distingui-lo de um vinho envelhecido em barril, não é necessariamente um atributo positivo. O Cabernet Sauvignon Stave & Steel Bourbon envelhecido em barril é grande e equilibrado, mas, novamente, a influência do caramelo e do coco doce poderia facilmente vir de um novo barril de carvalho americano padrão.”
Maquiagem no vinho?
Os críticos alegam que a utilização dos barris de bourbon seria um artifício para “maquiar” vinhos medíocres. Alguns dizem que é apenas uma jogada de marketing dos produtores, de olho no mercado consumidor de bourbon – gigante nos EUA. Independente das críticas, para os apreciadores de vinhos que não disfarçam sua passagem por barricas, acho uma experiência que vale a pena.
É preciso tem em mente, no entanto, que esse estilo de vinhos em nada (ou muito pouco) lembrará vinhos tradicionais. É preciso mente aberta para apreciá-los.
Vinhos envelhecidos em barril de Bourbon disponíveis no Brasil
Los Muertos Bourbon Barrel Black Label Assemblage
Apesar do “assemblage” do nome (mistura de variedades, em francês), trata-se de um monovarietal de Cabernet Sauvginon, segundo o importador. São “apenas” 13% de álcool, mas o vinho é encorpado e equilibra bem os fortes aromas da madeira. Até uma leve fruta vermelha em compota permanece perceptível. De R$249,99 por R$149,99 na Wine Duty Free.
Los Intocables Malbec
Produzido pela Las Moras no solo pedregoso de San Juan, ao norte de Mendoza. Um Malbec diferente de todos os Malbecs. Final médio e intenso. Por R$ 176,80 na Decanter.
1000 Stories Zinfandel – Bourbon Barrel Aged
Responsável pelo lançamento da moda dos barris de bourbon. As uvas são de Mendocino, na Calfórnia e a passagem pelos barris de bourbon é definida safra a safra. São 14,5% de álcool e muita personalidade na safra 2018. R$ 329 na Vinomundi.
Ménage a Trois Bourbon Barrel
Tecnicamente é um Cabernet Sauvignon, com 95% do vinho sendo composto por essa variedade. Os 5% de Petite Sirah ajudam com o corpo e complexidade. As uvas são selecionadas na Califórnia. 14,5% de álcool garantem a estrutura e integração à madeira. R$ 229 na Vinomundi.
Vinho brasileiro envelhecido em barrica de whiskey
E temos por aqui também um representante do estilo bourbon! É o Alicante Bourbon da Garbo Enologia Criativa. Esse eu não conheço – foi dica do pessoal que viu meu post sobre esse estilo no Instagram. Por R$ 138 no site do produtor.