Pequenas aventuras

Curte a seção do Guia Descorchados chamada Pequenas Aventuras? Nela, Patrício Tapias nos apresenta suas “descobertas” em cada um dos países cobertos. A cada ano, é a parte do Guia em que me demoro mais!

Ali estão os pequenos produtores, geralmente naturebas em algum nível, fazendo os vinhos mais artesanais, caprichados (e às vezes inusitados). Não é coincidência que a maioria dos produtores integrantes do Novo Chile está ali.

Escala humana

Por seu menor tamanho, esses produtores enfrentam desvantagens na competição com seus conterrâneos por lugares em nossas prateleiras. Essa desvantagem pode ser minimizada caso se proponham a trabalhar juntos – daí o apelo das agremiações como o MOVI e o Novo Chile.

Novo Chile

David Giacomini, brasileiro que vive no Chile desde criança e é também produtor de vinhos (La Recova – participou de um de nossos papos com o produtor. Veja aqui), resolveu dar um passo a mais: além de reunir 9 desses pequenos produtores sob o Novo Chile também cortou o intermediário e resolveu fazer sua própria importação – a Dagirafa (gostou do nome? Confere a explicação no destaque!).

A curadoria é do próprio David, e apenas alguns vinhos de cada produtor passaram por seu crivo. Conhecia Laura Hartwig de outros carnavais e os vinhos Erasmo (do conde italiano) conheci em última viagem ao Chile em 2019. Agora, convidada para atuar como embaixadora da franquia, pude conhecer outros vinhos e todos os produtores participantes. Um pouco do trabalho admirável que fazem é o que quero passar aqui.

A girafa não está no topo da cadeia alimentar, sua figura é simpática e ela não ameaça ninguém. Num universo de superlativos a girafa transmite tolerância, respeito, sustentabilidade e responsabilidade. Valores que o mundo do vinho nos permite resgatar e que queremos compartilhar com você!

Confira a seguir alguns dos produtores participantes e minhas dicas de vinhos

La Recova

Essa é a vinícola do David. Ele começou vendendo as uvas e passou a fazer seus próprios vinhos. A especialidade é o Sauvignon Blanc – de plantações super intensivas e secas, as sofridas videiras produzem bagos pequenos (50% menores que o padrão) e concentrados que rendem um vinho branco de corpo médio, acidez tricante, cheio de aromas frutas brancas, maracujá, goiaba, azeitonas verdes e pimentas. Final longo e persistente. La Recova Avid Sauvignon Blanc 2017 — De R$ 99 por R$ 84,15

A mesma base de Sauvignon Blanc, repassada em cascas de Syrah viram um vinho rosé demi-sec que foi um dos meus destaques de 2020 (acrescente aos aromas do Avid as frutas vermelhas da Syrah!). La Recova Obstinado – De R$96,00 por R$81,60

Confira a degustação do Obstinado e a apresentação da La Recova pelo David aqui

Trapi del Bueno

É Pinot Noir. É da Patagônia. É de solo vulcânico. É do produtor mais simpático do mundo e que deu uma super aula sobre o terroir da Trapi aqui.

São 2 vinhos: o Savage – mais leve, sem madeira – e o Hand Made – mais estruturado. Ambos com frescor marcado e muita fruta. São notas de morangos, amoras e especiarias. Com alguma concentração, é possível perceber o solo ferroso nesses vinhos. Corpo leve e médio, respectivamente.

Trapi Hand Made Pinot Noir 2017 — de R$ 189 por R$ 160,65

Laura Hartwig

Nascida como “projeto de aposentadoria” do casal Laura Bisquertt e Alejandro Hartwig, nas terras herdadas por Laura em 1966, essa pequena vinícola em Santa Cruz foi sucesso desde seu primeiro rótulo, lançado em 1995.

O foco são as castas tintas bordalesas e meu preferido é o Petit Verdot: tânico, encorpado, com fruta vermelha viva e ácida. Estagia 18 meses em barricas de carvalho francesas de primeiro e segundo uso, que se integra perfeitamente à corpulência do vinho. Selección del Viticultor Petit Verdot – de R$180,00 por R$153,00. (Obs.: as parreiras estão plantadas diretamente, sem porta-enxerto).

Vinícola Villalobos

Empreendimento familiar cheio de bossa ( a cantina foi feita no atelier de esculturas de Eduardo Villalobos). O vinhedo de Carignan fica em Lolol, sul do Colchágua e tem um toque realmente selvagem: as videiras foram plantadas entre os anos 1940 e 1950 e acabaram crescendo de forma livre, sem condução. Por ser trepadeira, a videira se apoiou nas outras plantas existentes no local – amoreiras, rosas mosqueta e maitenes – numa simbiose perfeita entre elas e que torna a colheita épica!

Pacote natureba completo: produção totalmente orgânica (com esse plus dos vinhedos silvestres sem poda), fermentação sem adição de leveduras e 12 meses de passagem por carvalho francês neutro, aliados àas noites frias da região resultam num vinho carnudo, com taninos marcados acidez vivaz. Viñedo Silvestre Carignan 2015 – de R$234 por R$199.

Outros vinhos e produtores

São 8 produtores participantes, entre eles o conde italiano que produz dos vinhos Erasmo, batizados em homenagem a um trabalhador do vinhedo (contei a história nessa confraria), além de Alchemy, BOWines e OWM.

São vinhos para agradar paladares desde os mais exóticos aos tradicionais, mas sempre com essa pegada artesanal.

Alguns dos vinhos do Novo Chile estão no GUIA FK 2020 – uma seleção que fiz com os vinhos destacados do meu ano. Ouça aqui.