Uma das caminhadas mais bonitas do planeta. Um sonho antigo meu. Após algum planejamento e muito convencimento com o maridão, lá fomos nós para o Parque Nacional Torres del Paine! Deixo as dicas aqui conforme prometido.
Planejando a viagem
A quantidade de dias vai depender do que se deseja fazer: Circuito “O”, Circuito “W”, bate-volta de 1 dia ou partes do circuito – ou mesmo nenhum circuito! É possível ir e ficar nos refúgios da “base” do “W”: o transporte chega até a porta dos abrigos/campings e você pode ficar por aí mesmo. Particularmente acho os abrigos muito caros e pouco confortáveis para temporadas mais longas, mas vou falar mais detalhadamente sobre isso mais abaixo.
Só para adiantar: a duração padrão é de 11 dias para o circuito “O” e 4 dias para o “W”.
O trekking:
É um parque nacional. Você pode ir para passar vários dias ou só 1 dia mesmo. Pode até ir de carro e percorrer as rotas demarcadas e ainda assim ter uma experiência memorável. Vou, primeiro, explicar porque vem gente do mundo inteiro visitar esse parque e depois dou as alternativas.
O principal atrativo são as famosas torres de rocha chamados Los Cuernos. Elas ficam bem no centro do parque e o trekking que todo mundo (mesmo) vem fazer pode dar a volta ao redor dos picos (chamado Circuito O) ou só meia volta (chamado circuito W devido a uma quebrada estratégica bem no meio da “meia volta” para visitar um mirante, fazendo que o percurso forme um “W”).
O circuito W é mais popular e pode ser feito em 4 dias – ou até menos, por quem tem pressa e boa condição física; ou mais, por quem tem tempo e quer esticar a experiência. O Circuito O toma em média 11 dias. Tem menos estrutura (necessariamente tem-se que acampar pelo menos 1 dia) e menos gente entupindo as trilhas.
Esses trekkings só podem ser feitos de novembro a março, mas dá pra visitar o parque em outras datas sem fazer trekking nenhum também! Se camelar kilômetros sob chuva carregando a cargueira nas costas não é sua praia (nem a minha: eu sempre torço pra fazer sol!), não desanime e não deixe de visitar! Mais abaixo dou dicas.
Acomodação e alimentação:
Este é o ponto crucial da viagem em todos os aspectos: responde pela maior parte dos custos e pelo nível de desconforto a encarar durante a empreitada – pode variar de ultra roots a quase um passeio no parque, dependendo de suas escolhas.
Os pernoites só podem acontecer nas áreas permitidas para camping ou nos refúgios; no camping você pode alugar uma barraca já montada e equipada (inclusive com saco de dormir adequado à temperatura noturna local) ou só o espaço para montar a sua própria barraca (que terá carregado por todo o trajeto).
Quanto à alimentação pode-se optar por pensão completa ou parcial (na parcial, você carrega sua comida, fogareiro e cia. para as refeições que não comprar com as operadoras. Note que há áreas específicas onde é permitido acender fogo e a preocupação deles com incêndios beira a paranoia).
Importante: é necessário ter todas as reservas já ao entrar no parque e é recomendável fazê-las o quanto antes, especialmente para o mês de janeiro, o mais concorrido. Para a minha viagem em março eu fiz as reservas em novembro e já precisei fazer concessões (tive que ficar num camping em vez do refúgio que eu queria) num dos dias e alterar datas!
Refúgios e campings
É super fácil reservar tudo pela internet e custa 1/5 do que você pagaria à operadora. Eu apanhei um pouco porque demorei para entender como o circuito funciona, mas agora vou contar aqui e não vai ter erro.
As duas operadoras que exploram as acomodações no parque são a Vértice e a Fantástico Sur, e o pulo do gato é que você vai precisar das duas. Pensa no W que forma o circuito: a Vértice tem as acomodações da perna oeste, à esquerda do W e a Fantástico Sur as da perna leste, à direita. O parque também oferece duas áreas de camping gratuitas (com zero serviço) mas que também devem ser reservadas com antecedência. Fica mais fácil entender visualizando o mapa abaixo. Para reservar é só checar a disponibilidade no site de cada operadora e fazer a compra (via PayPal).
Definindo seu roteiro e percurso:
Pode-se fazer o W em qualquer sentido: da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita ou só algumas partes dele. No próprio site do parque eles oferecem uma estimativa média de tempo para cada trajeto. Eu fiz o meu para comparar (sou razoavelmente ativa. Sou mais rápida na subida e super lesma na descida). Acabei quase sempre fazendo os percursos em menos tempo do que o estimado nos mapas e NUNCA cheguei a atingir médias de 4km/h. Por condições climáticas, também acabei não fazendo o passeio conforme planejamento – e, honestamente, não sei se teria dado conta: os trajetos além de intensos e com alto grau de dificuldade são super longos: pra cumprir o circuito em 4 dias tem-se que andar no mínimo 20km todo dia (ás vezes mais) e, nessa média de 3km/hora, isso demora muito. Cansa física e mentalmente.
De todos os passeios que já fiz, esse foi o que mais me judiou. Pode ter sido fatalidade, afinal meu joelho, que nunca tinha me incomodado, dessa vez quase me matou. O segundo dia, que deveria ser o mais tranquilo, cheguei quase engatinhando no refúgio. E olha que eu contei com bastões de caminhada. Aliás, considero imprescindíveis. Fiz outros passeios considerados mais difíceis: trilha Salkantai para Machu Picchu, travessia da Serra dos Órgãos, subida ao cume do vulcão Ilinizas no Equador e o trekking ao campo base do Aconcágua. Considero todos mais tranquilos que Torres del Paine. Mas que isso não te assuste: tem muita gente da 3a idade fazendo e até encontramos um gringo com aquelas mochilas tipo cadeirinha de bebê. O importante é se planejar bem e não esquecer de levar antinflamatório.
Meu passeio ficou assim:
Dia 1: chegada no aeroporto de Punta Arenas, traslado a Puerto Montt e pernoite em Puerto Natales
Dia 2: traslado de Puerto Natales até o Parque (Portaria Laguna Amarga) em busão regular; pernoite no Refúgio Torre Norte. Há dois horários de ônibus de Puerto Natales até o parque: às 7:30 da manhã e às 14hs. Eu fui à tarde pra ter algum tempo pra me organizar em Puerto Natales, com compras de última hora, e também pra poder acomodar eventuais atrasos de vôos. Acabou sendo um dia meio tedioso, porque chegamos ao parque as 17hs e não tinha muita coisa pra fazer. Se fosse fazer de novo, teria pego o ônibus da manhã e já feito o passeio até o mirante neste primeiro dia. O ideal é dormir no Chileno mesmo – camping ou refúgio – mas se tiver que voltar até o Torres Central ou Torres Norte não complica muito não: são mais uns 90 minutos de caminhada morro abaixo sem grande dificuldade.
Dia 3: caminhada até o mirador base Las Torres (aquele da foto tradicional) e pernoite no camping Chileno (perna direita do W). Estimativa: 6,5h. Foi difícil porque tinha nevado no dia anterior e havia trechos bem barrentos e escorregadios. Apesar disso, tivemos sorte: no dia anterior a subida chegou a ser interditada. Nesta noite fiquei na plataforma premium, que é uma barraca toda equipada e dá direito a usar o banheiro do refúgio, que é mais confortável que o banheiro destinado aos campistas. Marcão reclamou do barulho do riacho, mas eu dormi super bem.
Dia 4: caminhada desde o camping Chileno até o Domo Francés (8h de caminhada) pernoite no Domo Francés. A trilha é considerada fácil, mas eu sofri muito com eu joelho e cheguei quase engatinhando. Uma opção seria ter parado no refúgio Los Cornos, 2h antes e onde fica a maioria dos caminhantes. Eu ainda acho que esticar até o Francés foi a melhor opção, porque permite certa vantagem e encurta o percurso do dia seguinte, que é ultra punk. Ao lado do refúgio Los Cuernos ficam também umas cabanas vips caríssimas. As cabanas ficam ao lado de um riacho e o barulho da água é forte.
Dia 5: caminhada até o mirador Británico, retorno ao Refúgio Paine Grande (9h de caminhada) pernoite no Refúgio Paine Grande. Esse é um dia intenso devido: a subida até o mirador é super íngreme e a descida castiga. Eu nem fui: chovia muito e as nuvens estavam super baixas. O guarda -parques disse que a visibilidade era nula e o caminho até o mirador Británico estava fechado. Acabamos tocando direto até o refúgio Paine Grande e chegamos super cedo, às 13h, mas a recepcionista foi legal e fez nosso check in assim mesmo. Foram 4h de caminhada bem tranquila nesse dia e deu pra recuperar um pouco meu joelho. Nesse refúgio ganhamos um quarto só pra nós 2! É minúsculo, com 1 beliche e os caras não ligam a calefação. Foi a noite em que passei mais frio.
Dia 6: Caminhada até o Glaciar Gray (7h), ferry até a Portaria Pudeto até Paine Grande (18hs) e retorno a Punta Natales no busão de linha regular (a saída do ônibus é programada para as 18:30hs, mas é coordenada com o catamarã). Custa 30 USD. Se der, pegar o ferry anterior, que parte às 16:15hs. Esse dia também é bem desafiador e ainda tem a pressão do horário. Se eu tivesse mais tempo e mais grana, acho que o ideal é dormir no refúgio Grey: dá pra fazer tudo com calma e ainda passear no glaciar, que é desconhecido para a maioria de nós. O percurso é relativamente fácil, mas há muitas pedras e um vento de derrubar! Com a chuva, batia no rosto, que era única parte do corpo descoberta, e doía muito. Nos encharcamos e passamos muito frio, apesar de da bota impermeável a água era tanta que acabou entrando por cima, suponho. >>
Como chegar:
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Punta Arenas a Puerto Natales (3hs)
Desde Santiago são 3.115km com um trecho que cruza a Argentina. Mega trampo. A cidade mais próxima é Puerto Natales e só há vôos diretos no verão. O jeito é voar até Punta Arenas e então encarar os cerca de 250km até Puerto Natales, que podem ser de carro alugado ou busão (CLP$8.000 cada trecho sem economia na compra da ida/volta juntas). 2 companhias oferecem o serviço e vendem por internet: Buses Fernández, Bus Sur. Na Buses Pacheco tem que consultar…
O ônibus sai da cidade e passa no aeroporto, que fica no caminho. Você escolhe de onde quer partir.
2. Puerto Natales – Parque Torres del Paine
Várias companhias operam esse trecho: Buses Gómez, Buses JB y Buses María Jose. Os preços e horários são padronizados:
Puerto Natales >> Portaria Laguna Amarga: 7:30am ou 14:30 (duração: 2hs)
Pudeto >> Puerto Natales: 13:30 ou 19:00hs (esse ônibus espera o catamarâ chegar de Paine Grande)
3. Ferry dentro do Parque (site)
Você provavelmente vai precisar deste serviço também, especialmente quem for fazer o circuito W num esquema parecido com o meu.