Falando em vinho com nome estranho, já viu o Est! Est!! Est!!! de Montefiascone DOC ? É uma denominação de origem inteira! Conheça esse italiano considerado o vinho com o nome mais estranho do mundo pelos Master of Wine Jancis Robinson e Hugh Johnson em seu cultuado World Atlas of Wine (e confira o que mais eles pensam sobre ele!).
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Est! Est!! Est!!! di Montefiascone DOC (???)
Os pontos de interrogação são meus, mas os de exclamação realmente fazem parte (uma parte importante!) do nome dessa denominação de origem controlada (DOC) italiana! O nome, para um vinho, jé me pareceu bem peculiar. Quando percebi que eram vários vinhos – uma DOC inteira, na verdade – corri pesquisar (e provar, claro!). Aqui estão meus achados.
Diz a lenda…
Segundo o site wikipedia há várias versões para a história por trás do nome de Est! Est!! Est!!! di Montefiascone, mas todas vem sendo repetidas há séculos e têm em seu eixo central um bispo católico em viagem pela Itália. Bom amante de vinhos, o bispo envia à sua frente um mordomo com a missão de encontrar os melhores vinhos do caminho para que o Bispo possa ir diretamente a eles quando passar por lá. O mordomo, quando achasse um bom vinho, deveria marcar a porta da taberna com a palavra est (que em latim significa “há” e abrevia a expressão vinum est bonum: “há bom vinho”).
Aqui ! Aqui !! Aqui !!!
Segundo a lenda. o mordomo do bispo ficou tão impressionado com os vinhos de Montefiascone que encheu a porta do local com a marcação combinada – est – e muitos pontos de exclamação, como quem diz Aqui ! Aqui !! Aqui !!!, para que seu chefe não corresse o risco de passar batido. Eu consigo até visualizar um sujeito, no auge da empolgação ébria, pulando e rabiscando a porta do local!
DOC !!!!!
Os vinhos Est! Est!! Est!!! ganharam status de denominação de origem controlada em 1966. É um vinho branco obtido a partir das uvas Trebbiano Toscano. Malvasia Bianca e Trebbiano Giallo da região de Lazio, que inclui Roma. Os pontos de exclamação são parte importante do nome pois refletem a empolgação do responsável por sua posterior fama.
Verdade ou Mentira ?
Nenhuma das versões tem comprovação, mas a história narrada por Tom Stevenson na “The Sotheby’s Wine Encyclopedia” oferece muitos detalhes saborosos. Segundo Stevenson a história teria ocorrido no final de 1110 ou início de 1111, quando o bispo alemão do século XII, Johann Fugger, viajava a Roma para a coroação de Henrique V como Santo Romano Imperador.
Stevenson ainda relata que o próprio bispo teria ficado tão impressionado com os vinhos que cancelou o resto de sua jornada e ficou em Montefiascone até sua morte, juntamente com Martin, o mordomo. Os dois teriam consumido o tão precioso líquido com tanta avidez que os moradores fizeram um monumento em homenagem ao bispo, onde acredita-se que tenha sido enterrado. Na lápide está escrito: “est est est-propter nimium est-Johannes de Foucris-Dominus meus-Mortuus est ” – algo como: Aqui Aqui Aqui – Joahnes de Foucris, meu senhor, jaz aqui.
Uma das fontes citada no wikipedia, o jornal Bangor Daily News de 15/04/1980, conta ainda que Fugger, em gratidão e na ausência de herdeiros, doou seus bens para os habitantes de Montefiascone sob a condição de que a cada ano um barril do seu amado vinho fosse derramado sobre seu túmulo. Um ato da igreja acabou alterando essa prática para permitir que o vinho, em vez de derramado, fosse doado ao seminário local.
Tão bom assim mesmo ?
Os críticos especializados em vinhos da atualidade parecem não se impressionar tanto quanto o bispo com o Est! Est!! Est!!!: Hugh Johnson e Jancis Robinson o definem em seu The Word Atlas of Wine como sendo “o vinho branco mais sem-graça com o nome mais estranho do mundo”, enquanto Joe Bastianich e David Lynch dizem que a história é mais interessante que o vinho.
Ok, não chega a ser um vinho inesquecível, mas o que eu provei estava longe de ser entediante (devo dizer que já constatei erro no venerado Atlas da super Jancis antes, então…) mas também não é apagado: tem aroma suave de lima e toranja é uma super acidez que combinou divinamente com o espaguete al scoglio que eu preparei – scoglio, em italiano, são conjuntos de pedras no mar, tipo recifes, e a “pasta ao scoglio” é com os bichos que vivem no lugar – mariscos, camarões, polvos, lagostines etc..
Podem ser encontrados nos mercados, especialmente na região de Roma, a partir de 3 euros. O que eu provei custou 3,55 euros e o mais caro que eu já vi era de 8 euros.