Otronia – vinhos no limite do possível

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Desde que comecei a aprender sobre vinhos aprendi que sou fã dos vinhos da Patagônia. Eu achava que era por causa do frio – mas outra coisa que aprendi nesse caminho do vinho é que as respostas nunca são simples assim. Que bom!

Na degustação de ontem – que foi uma baita aula – Juan Pablo Murgia (enólogo da Otronia, entre outros projetos) falou sobre a dor e a delícia de produzir vinhos comercialmente no paralelo 45°33″ – os vinhedos mais austrais da atualidade. No limite do possível era o nome da apresentação – e já dá uma boa ideia dos desafios.

O Terroir Patagonico

O segredo desse terroir extremo é (óbvio haha) uma combinação de fatores: 1) o clima desértico – com baixíssima umidade e imensas variações de temperatura entre dias e noites –  e 2) abundante oferta de água dos lagos cercanos (um deles o responsável pelo nome da bodega). A água possibilita o “efeito iglu” – com a formação de uma camada de gelo que isola e protege a videira e seus frutos do frio extremo da noite e, com o aquecimento pelo sol, derrete e hidrata as plantas.Esse ciclo se repete diariamente, segundo Juan Pablo. Some-se a isso o vento uivante (pudemos ouví-lo!), a abundância de luz solar e os solos, claro. Já vou falar deles e do vinho mais surpreendente da noite!

A Otronia começou há 15 anos como um “projeto de exploração”. A ideia inicial era produzir espumantes – afinal, a região é classificada como Winkler 1, assim como Champagne. Hoje produzem não apenas as castas de maturação precoce, típicas de climas frios (pense em Chardonnay e Pinot Noir) mas também Malbec – como não poderia deixar de ser – e um Merlot surpreendente (esse do terroir que fiz suspense mais pra cima).

Como não sou capaz de avaliar um vinho sem considerar o preço, já vou logo dizendo que me animei com a linha 45 Rugientes, que sai a R$248 no preço cheio e ainda entra em promoção às vezes. Vale ficar de olho! Ah, encaixo aqui um pedaço de informação nerd do tipo que eu adoro: o rendimento das videiras por lá é cerca de 800g/planta e são utilizados os frutos de 2 a 3 plantas para produzir 1 garrafa.

Sobre os vinhos então:

45 Rugientes Corte de Blancas 2020

35% Chardonnay / 30% Gewurztraminer / 20% Pinot Gris / 15% Riesling: super aromático mas sem ser enjoativo (e isso dito por uma pessoa não muito fã de Gerwurz!). O toque floral é leve e agradável. A acidez trincante é deliciosa e os 22 meses em barrica IMPERCEPTÍVEIS – creiam-me! Amei.

45 Rugientes Pinot Noir 2020

alegria de amante de Pinot é provar Pinot sulamericano carnudo e sem aroma de geleia de morango! Acabei de inventar essa afirmação, mas digo por mim! Esse tem fruta vermelha fresca (muita!), um toque terroso e uma acidez + taninos que chega a arder a língua! Denso e tenso.

45 Rugientes Merlot 2021

esse pra mim foi o destaque da noite! Vem de um parcelinha do terreno que é majoritariamente areia. Um Merlot marcante, com pirazina delicada, frutado, tanino fino e super acidez. Achei o preço ótimo.

Otronia Block 1 Pinot Noir 2020

Aqui o vinho sobre um belo degrau. Assim como o 45 Rugientes, 50% das uvas são fermentadas em cachos inteiros, ao estilo borgonhês, que confere mais estrutura tânica resulta num PN que encara carne vermelha com distinção e que deve “encomplexar” nos próximos anos. #meunumero

Otronia Malbec 2020

esse foi o presente da noite! Uma jóia rara extraída de 0,4ha de vinhedo PRESTANÇÃO!!! isso é menos da metade (37%) de um campo de futebol profissional. Só por isso já era pra beber rezando, mas tem mais! Aormas de framboesa, româ, toque terroso, super acidez. Elegância pura.

Chardonnay Otronia 2021

foi o último vinho do flight – o que já diz muita coisa! Intenso, concentrado, sem malolática, frutas amarelas no nariz e um toque cítrico e de abacaxi levíssimo na boca. A Otronia diz que esse é o vinho ideal para revelar a riqueza de seus solos. Não discordo.

Os vinhos Otronia são importador para o Brasil pela World Wine (menos o Malbec, essa jóia rara!)

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